Até quando vamos viver sob a expectativa de abrir e fechar as atividades?
Diferente de outros países do mundo, o Brasil postergou ao máximo fechar o não essencial e, quando o fez, foi pela metade.

Fernando Duarte/BAHIA NOTÍCIAS - 01/03/2021 - 11:45
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Não nos enganemos com a falsa sensação de que funcionou o “lockweekend”, como ficou conhecido o fechamento de atividades não essenciais no final de semana. Para frear a disseminação do novo coronavírus, é preciso ser ainda mais enérgico, promovendo o lockdown no sentido original do termo, com a restrição da circulação de pessoas. Porém o peso político de uma decisão como essa ainda não foi medido completamente. Diferente de outros países do mundo, o Brasil postergou ao máximo fechar o não essencial e, quando o fez, foi pela metade.

Na Bahia, por mais que o governador Rui Costa e o então prefeito de Salvador, ACM Neto, tenham tido um desempenho satisfatório na primeira fase da pandemia, não houve um comprometimento integral por parte da população. Com o desgaste de tudo o que foi realizado até aqui e sem um fim previsto para a crise sanitária, a sociedade cansou. Isso explica porque, de ricos a pobres, houve um desrespeito massivo às medidas de distanciamento social. O resultado é observado com a “avalanche de casos”, para usar uma expressão que ouvi de uma autoridade de saúde local. 

Agora, com Bruno Reis na prefeitura de Salvador, a postura se manteve a mesma: uma ação coordenada com o governo da Bahia para evitar que a capital baiana viva momentos tristes como os já registrados em Manaus (AM). As cenas de pessoas na fila, aguardando por leitos e por assistência, são algo que não podem ser facilmente esquecidas. Por mais que queiramos fingir que tudo não passa de um pesadelo que não termina nunca.

O fechamento das atividades não essenciais acabou estendido por mais 48h em boa parte da Bahia - as regiões oeste, norte e nordeste não estariam à beira do colapso, segundo o governador. A medida é dura, mas seguirá como um paliativo, uma espécie de meio termo para evitar a revolta da chamada opinião pública. Suspender o funcionamento de atividades causa desconforto em praticamente todos os setores da economia e os impactos das reações desses segmentos podem ter um alto custo político.

É certo que essa ampliação das medidas restritivas pode permitir um fôlego ao sistema de saúde, que está mais próximo do colapso do que nunca. O limite de criação de leitos públicos já teria sido suplantado, de acordo com as autoridades, e ainda assim há quem tente normalizar e naturalizar o caos à espreita. O toque de recolher vai durar mais de 15 dias e talvez não surta qualquer efeito no controle da doença. Já o “lockdown à baiana” ficará em vigor por ao menos quatro dias e pode desacelerar com mais efetividade a curva de crescimento da Covid-19.

Nesse momento, por mais que a tensão esteja à flor da pele, é preciso manter também um pouco de calma. E é preciso que os gestores públicos também tenham mais coordenação para anunciar medidas restritivas com mais antecipação. Não devemos amplificar o pânico, ao tempo em que as mensagens devem ser dadas de maneira direta: precisamos manter o máximo de isolamento social até que haja um melhor momento da crise. Ou pelo menos até que tenhamos vacina para mais baianos.

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