Vacinação da população indígena está atrasada por questões logísticas
As cidades do Extremo Sul baiano e da Costa do Descobrimento são as mais problemáticas. 

REDAÇÃO BAHIA DIA A DIA - 12/02/2021 - 11:57
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A imunização contra a Covid-19 para a população indígena aldeada, grupo prioritário na primeira fase de vacinação, tem enfrentado problemas em alguns municípios baianos. Dificuldades logísticas, falta de apoio policial para transporte de doses do imunizante, e aspectos culturais são algumas das barreiras. As cidades do Extremo Sul baiano e da Costa do Descobrimento são as mais problemáticas. 

Na cidade de Porto Seguro, na Costa do Descobrimento, são 21 aldeias indígenas, que por vezes ficam a seis horas de distância da sede, o que tem atrasado o trabalho dos agentes da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), que no estado, é o órgão responsável pela  imunização dos aldeados. 

De acordo com o coordenador distrital de saúde indígena Adilton Assunção, a falta de equipes da Polícia Militar (PM-BA) para realizar a escolta das vacinas tem deixado o processo ainda mais lento. 

“A orientação da prefeitura é de que nós só podemos levar as vacinas para as aldeias com escolta para que não tenha o risco de roubo no trajeto. Ocorre que a escolta sai do município com a equipe da Sesai às 8h da manhã, às vezes chega na aldeia às 13h, mas tem que voltar até as 16h, não por conta da nossa equipe, mas por conta da escala de trabalho dos policiais, então o tempo de vacinação é muito curto”, explicou. 

Até então, o governo do estado disponibilizou, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Porto Seguro, 3.600 doses para a população indígena aldeada. No entanto, de acordo com o último boletim emitido pela secretaria, apenas 1.654 indígenas aldeados foram vacinados. 

O coordenador da Sesai disse ao Bahia Notícias que solicitou, há pouco mais de dez dias à Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), mais escoltas para possibilitar que as equipes passem mais tempo nas aldeias. “Até então, não recebemos retorno”, disse.  Ainda de acordo com as informações do coordenador, a mesma problemática logística é vivida no município de Santa Cruz Cabrália, na Costa do Descobrimento.  

A SSP informou ao BN que recebeu a solicitação e encaminhou para a Polícia Militar que deverá adotar as medidas necessárias. A pasta acrescentou que as forças de segurança estaduais estão trabalhando, em todo estado, “com total empenho na guarda, transporte e escoltas das vacinas, além de reforçar o patrulhamento nos locais de vacinação”.

A reportagem do Bahia Notícias entrou em contato com a PM-BA para saber em qual momento novas guarnições serão disponibilizadas para atender às necessidades dos municípios, mas, até o fechamento desta matéria, não obteve retorno. 

 ASPECTOS CULTURAIS

Para além das questões logísticas, o coordenador da Sesai pontua que aspectos culturais tem dificultado a vacinação em aldeias da região de Ilhéus, no Sul baiano. “Muitos indígenas não querem tomar a vacina por questões culturais. Já ouvimos nas aldeias que se tomassem a vacina ficariam mais vulneráveis à segunda onda do vírus, daí temos que retornar para fazer todo um trabalho de conscientização com as lideranças para que as vacinas sejam aceitas”, disse. 

Já no município de Itamaraju, mais ao sul da Bahia, é o aspecto religioso que tem feito os indígenas recusaram o imunizante.  “Existe uma aldeia em Itamaraju que ninguém tomou porque o cacique é evangélico e ele acredita que é Deus que trará a cura, e não a vacina. Tudo isso atrapalha muito”, disse. 

Mesmo com as dificuldades apresentadas, Adilton acredita que a pasta irá conseguir cumprir o prazo estipulado pela Sesab, para a aplicação das primeiras doses do imunizante na população indígena aldeada que vive na Bahia. “O prazo é até o dia 12 de fevereiro para cumprir a meta mínima de 95%. A vacinação acontece tranquilamente nas demais cidades e nos demais povos, o problema maior é o polo de Porto Seguro que envolve Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália, além de Itamaraju com relação as recusas, mas aos poucos vamos conseguir, estamos unindo forças para isso”, finalizou. 

De acordo com o último boletim emitido pela Sesab no final do dia desta quinta-feira (11), 15.447 indígenas aldeados já haviam sido vacinados no estado. No entanto, por conta do atraso no cruzamento de dados, este número pode ser maior.  A exemplo, tem-se a própria cidade de Porto Seguro onde a SMS divulgou que 1.654 indígenas já haviam sido vacinados, número superior ao divulgado pela Sesab (1.585).

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