Suspeito de uma fraude milionária por meio de um esquema de pirâmide financeira, o mineiro Marcel Mafra Bicalho, 35 anos, teve a prisão temporária convertida em preventiva nesta quinta-feira (21). Ele foi preso no dia 1º de agosto, numa pousada de luxo em Arraial d´Ajuda, distrito de Porto Seguro.
De acordo com a Polícia Civil de Montes Claros (MG), outras prisões relacionadas ao caso ocorrerão nos próximos dias. Bicalho, que nega os crimes, é suspeito de organização criminosa, lavagem de dinheiro, estelionato e evasão de divisas.
Ainda segundo a investigação, com as supostas fraudes ele conseguiu construir um patrimônio avaliado em R$ 33 milhões, com itens como casas, carros e dinheiro desviado do esquema. No total, a fraude lesou mais de 6 mil pessoas e causou prejuízos de mais de R$ 1 bilhão.
Um dos delegados envolvidos nas investigações, Alberto Tenório Cavalcante Filho, titular da delegacia de Investigações Especiais de Montes Claros, disse que o mineiro mentiu inclusive na própria família.
“De pessoa humilde, ele passou a milionário em pouco tempo. Enganou também a família, disse que ganhou na Mega-Sena e enviou todo mundo para o exterior. Ele tem mulher e filhos, mas estava sozinho quando foi preso”.
A pousada onde Bicalho foi preso estava desativada. O imóvel, localizado na região de Vale Verde, mais afastada do litoral, foi alugado há quatro meses por R$ 30 mil, mas as despesas com o esconderijo disfarçado de moradia improvisada passavam dos R$ 100 mil, conforme apuração policial. No local, foram apreendidos dois veículos, uma Land Rover Velar e um Ford Ranger, além de uma pistola 380, um revólver, computadores, celulares e pen drives.
Golpe
No extremo sul da Bahia, Marcel Bicalho mantinha uma vida discreta e quase não saía da pousada, onde ele mantinha grande aparato tecnológico que o permitia monitorar as transações financeiras. O imóvel, cujo dono é um brasileiro que mora no exterior, era protegido por seguranças armados de uma empresa particular.
Segundo a polícia, há pelo menos três anos Marcel Bicalho atua no mercado financeiro por meio da empresa Mattos Investing, criada em Montes Claros. Antes de vir para a Bahia, ele morava no bairro nobre de Ituruna, não tinha emprego fixo e mantinha um estilo de vida classificado como “caipira”, sem chamar a atenção das autoridades policiais, mesmo já tendo sido preso por brigas de trânsito.
Segundo a polícia, com a Mattos Investing, o mineiro atraía pessoas para que investissem em criptomoedas (bitcoins) e outras atividades financeiras. Na internet, ele dava curso de como seriam os investimentos e prometia lucro inicial de 60% em dois meses, aumentando, depois de 6 meses, para uma margem de 120 a 160% do valor investido. O aporte mínimo era de R$ 1,5 mil.
A estratégia era dar um retorno financeiro nos primeiros dois meses, para manter as pessoas interessadas. Em seguida, quando havia novo investimento, ele sumia com o dinheiro. As aplicações individuais giravam em torno de R$ 80 mil a R$ 100 mil, mas depois dos lucros iniciais eles chegavam a valores entre R$ 400 mil e R$ 500 mil. De acordo com a polícia, apenas um investidor do Ceará, por exemplo, perdeu R$ 7 milhões.
A polícia não soube especificar quantas pessoas fazem parte da suposta quadrilha criminosa, mas garantiu que ela tem atuação em todos os estados do Brasil. Um dos integrantes do grupo era o baiano Leonardo Oliveira da Silva, 32, preso preventivamente no mesmo dia que Marcel Bicalho.
A polícia informou que Leonardo lavava dinheiro e angariava novas vítimas em todo o país. Apenas no Rio de Janeiro, havia um grupo de cerca de 600 pessoas, algumas das quais atuavam também com a lavagem de dinheiro, produção de documento falso, tanto público quanto particular, remessa ilegal de dinheiro para o exterior e na captação de novos investidores.
Alberto Tenório Cavalcante Filho informou que, desde que passou a dar golpe nos investidores, Marcel sempre se mudava de endereço e trocava de aparelho celular. Ele preferiu não informar como a polícia chegou até o suspeito.
“Ele chegou a morar em Belo Horizonte, Salvador, em outra casa em Arraial d’Ajuda. Voltou pra Montes Claros e, depois, foi para Arraial de novo. Há investigações aqui em Montes Claros e em Belo Horizonte contra ele e outros envolvidos”, concluiu o delegado.