Drones do Exército serão usados para mapear e identificar as áreas pouco acessíveis atingidas pelo temporal que provocou mortes e causou estragos nas regiões Sul e Extremo-Sul da Bahia. Nesta terça-feira (14), 100 integrantes do 35° Batalhão do Exército de Feira de Santana se deslocaram para as cidades mais afetadas. Uma base será montada em Eunápolis e, de lá, os militares vão se dividir para atuar em outras localidades. Ao todo, 51 municípios decretaram estado de emergência por conta da chuva.
Além dos drones, a ajuda do Exército para as cidades destruídas pelas enchentes e deslizamentos prevê carros-pipa para levar água aos locais que enfrentam desabastecimento. Ontem, a primeira missão dos militares foi no distrito de Nova Alegria, em Itamaraju, levando mantimentos para a comunidade local. A cidade teve cerca de 90% do seu território devastado depois das fortes chuvas, de acordo com a assistente social Adriana Novaes, que atua na Secretaria de Desenvolvimento Social do município.
Durante o Papo Correria transmitido nesta terça, o governador Rui Costa anunciou que o projeto de lei enviado à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), que garante a tarifa social na conta de água para moradores das cidades atingidas, foi aprovado por unanimidade. A medida visa facilitar a limpeza e reestruturação de casas e comércios atingidos. Também foram aprovados os recursos de R$ 20 milhões em financiamento aos comerciantes das cidades atingidas.
Em Itamaraju, onde foram registradas três mortes devido aos temporais, foi instalado o gabinete de crise do governo estadual, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A ideia é que, com a estrutura mais próxima, o planejamento e a execução das ações emergenciais de recuperação das cidades destruídas pelo temporal sejam reforçados. Após uma reunião com lideranças locais e políticos, foram instituídas coordenações dedicadas à saúde, limpeza, logística e distribuição de alimentos.
Equipes também foram organizadas para fazer o cadastramento das famílias que terão direito às doações. Ontem, os secretários da Casal Civil, Carlos Mello; da Saúde, Tereza Paim; de Promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis; e o presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), José Trindade, estiveram em Itamaraju.
Para evitar surtos de doenças infectocontagiosas que costumam surgir após chuvas e alagamentos, como leptospirose e dengue, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) vai entregar 60 tipos de medicamentos e vacinas. Além de testes para covid-19 e máscaras para a população das regiões afetadas.
Itamaraju sofre com os estragos da chuva
Itamaraju tem pelo menos 90 famílias – cerca de 250 pessoas - que precisaram sair de suas casas e se encontram em abrigos, ainda segundo a assistente social Adriana Novaes. Maria Glória Ramos, 45 anos, é uma dessas pessoas. A empregada doméstica mora na rua Espírito Santo, onde um deslizamento de terra matou duas crianças e um homem, na quarta-feira (08). Glória conta que os vizinhos eram amigos: “A menina que morreu brincava com uma das minhas filhas aqui na rua sempre”.
Glória, o esposo, duas filhas e um neto, deixaram a casa que está sob risco de desabamento após muita resistência e só depois que membros de uma Igreja Batista da cidade foram insistir para que eles se deslocassem para um local seguro. Agora, a família está abrigada no templo evangélico e não tem previsão de quando poderá retornar para a própria moradia. “Ainda ficou muita gente lá na rua, muitas pessoas não quiseram deixar suas casas”, afirmou Glória.
Mércia Rodrigues, 49, também é moradora de Itamaraju e, apesar de não ter sofrido com os impactos da chuva diretamente, prestou socorro à vizinhança. Sua casa abrigou três vizinhos, além de móveis que conseguiram ser salvos na chuva da última quinta-feira (09).
“É muito triste mesmo, conheço pessoas que perderam tudo e ficaram só com a roupa do corpo. Eu nasci aqui e nunca vi nada parecido”, afirmou a lojista. Mércia ressaltou ainda que a população é muito unida e que não poupa esforços para ajudar o próximo: “Até quem está de mal faz as pazes nessa hora, é todo mundo muito unido”.
Comunidades ilhadas
O aumento do nível dos rios causado pelos temporais tem prejudicado a locomoção de pessoas que vivem na zona rural de muitas cidades. No município de Caetanos, no sudoeste da Bahia, a região de Riachão do Gado Bravo tem sofrido com a falta de mantimentos, que chegam ao local, em sua maioria, de Vitória da Conquista. Maria do Socorro Vieira, que está ilhada na localidade, diz que não sai de casa há, pelo menos, 15 dias. Os rios Riachão e Gavião banham a área.